1. Negócios e Direito
Durante toda a graduação, os estudantes de Direito debruçam-se sobre o estudo das normas que compõem o ordenamento jurídico brasileiro. Do ramo cível ao criminal, são dedicados cinco anos de suas vidas à dogmática jurídica, por exemplo, que nada mais é do que o estudo técnico dessas normas, tendo em vista sua aplicabilidade diante de problemas concretos. Entretanto, o contato com a advocacia na prática é capaz de revelar que o desempenho desse ofício basilar ao pleno funcionamento da Justiça está para além das fontes do Direito, uma vez que pode exigir dos profissionais conhecimento sobre gestão empresarial.
É indispensável que todo advogado ou advogada saiba como administrar um escritório de advocacia. Seja abrindo o seu próprio escritório ou chegando a um cargo executivo, noções sobre gestão serão altamente requisitadas no processo de tomada de decisões estratégicas ao crescimento dos negócios.
As limitações expressas pelo Código de Ética e Disciplina da OAB, que visam afastar de serviços advocatícios um caráter mercadológico, podem causar receios em boa parte das pessoas que exercem a advocacia. Todavia, é preciso ter em mente que a Ordem apresenta restrições quanto à publicidade, e não quanto ao marketing. Trata-se de impedir ações publicitárias agressivas, que estimulem a litigância em um país cuja essa cultura já é bastante forte. Além disso, as limitações impostas pela OAB, através de seu código, criam uma tendência à prática de um marketing mais moderno, atrelado a
conteúdos informativos. É sobre criar um relacionamento com o potencial cliente através da difusão da cultura e dos valores de seu escritório, do crescimento da sua marca, tendo o conhecimento jurídico como principal ferramenta.
2. Marketing Jurídico 21
Em 1999, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman publicou pela primeira vez uma de suas obras mais conhecidas, “Modernidade Líquida”, que carrega a sua análise sobre uma época de extrema fluidez nas relações humanas. Para Bauman, após a Segunda Guerra Mundial, a humanidade passou a encarar relações sociais e econômicas de maneira mais superficial e consequentemente frágil. Essa é uma realidade oposta à modernidade sólida, cujo conceito também foi desenvolvido por ele, onde as relações estabelecidas pelos seres humanos eram mais rígidas e duradouras.
O século 21 pode ser encarado como o desdobramento daquele período analisado por Bauman. Vivemos um momento da história fortemente marcado por celeridade e mutabilidade. Num piscar de olhos, tudo ao nosso redor pode ganhar uma nova roupagem. E isso diz bastante sobre o quão intenso, no sentido de movimentação, o mundo veio se afirmando e consequentemente os quão dinâmicos nos tornamos.
Apesar desse perfil mais fluído do século 21, sabemos que o Direito ainda é uma área em que as pessoas esperam por uma certa formalidade construída ao longo dos últimos séculos. E isso pode ser um obstáculo ao tão desejado crescimento de marca, uma vez que acontece aqui um conflito entre a requerida tradição do universo jurídico e a sede por inovação do século 21. Todavia, é possível, sim, associar o tradicional ao inovador, e isso é claramente perceptível quando um escritório está disposto a abraçar tendências contemporâneas, como através do uso de ferramentas digitais, criando conexões entre sua marca e outras pessoas, ou através do emprego de uma linguagem mais acessível ao público, deixando um pouco de lado o “juridiquês” e gerando maior acesso à informação jurídica, uma vez que é necessário compreender que se você quer fazer sua marca crescer e ganhar ampla visibilidade, você precisa alcançar os mais diversos nichos.
Além disso, é preciso entender que pessoas preferem interagir com pessoas! De nada adianta querer tornar a sua marca forte no mercado se você não pretende escolher rostos para representá-la. É sobre contar com personalidades que carregam em seu lado profissional a cultura e os valores da empresa que fazem parte, sendo o sentimento de pertencimento um dos elementos indispensáveis dessa fórmula de sucesso no mundo do marketing.
3. Sentimento de Pertencimento: O Motor para o Crescimento de uma Marca
Quando alinhamos nosso tão precioso tempo a projetos e propósitos de vida, o sentimento que carregamos é de recompensa e realização pessoal.
As grandes organizações que entendem o propósito de sua marca e como isso impacta em sua tomada de decisões, tendo em vista seu crescimento no mercado, destacam a importância do senso de pertencimento como algo benéfico ao estímulo da consciência organizacional coletiva.
Em qualquer nicho de mercado, a competitividade tem crescido de forma intensa, fazendo com que as empresas se movimentem ao ponto de compreender que incorporar o propósito da sua marca é impulsionar o crescimento dela. E tudo o que uma organização atrai após isso, é consequência do seu desempenho – colaboradores e clientes.
O sentimento de pertencimento começa de dentro para fora, com aqueles que acreditam no que propagam, e por isso a importância em selecionar os quadros que melhor se encaixam nesse propósito, aumentando consequentemente a visão de crescimento da organização.
À medida que crescemos, carregamos conosco a necessidade de pertencer a meios, algo que se inicia no seio familiar e se desdobra quanto a outros grupos que somos apresentados ao longo da vida. São exemplos os grupos formados na escola, na faculdade e até mesmo no trabalho.
Sentir-se parte de algo, nada mais é do que uma necessidade que nos acompanha por toda a vida, sendo algo intrínseco a todo ser humano.
Tratando-se da esfera profissional, é importante compreendermos que o pertencimento é um dos maiores fatores motivacionais existentes. A sensação de fazer parte de uma organização, carrega inevitavelmente a convicção de que o seu trabalho vem gerando frutos.
Segundo a Forbes, em uma pesquisa realizada pela startup de desenvolvimento de liderança BetterUP, “o sentimento de pertencimento no local de trabalho é vital para o bem-estar dos funcionários e funcionamento organizacional”. Destaca-se o quão importante é criar aliados, experimentando uma construção de empatia e estimulando interações saudáveis.
A Forbes divulgou também um estudo realizado com cerca de 1.800 trabalhadores americanos, demonstrando que profissionais com senso de pertencimento faltam por doença 75% a menos do que aqueles que não possuem, além de terem 56% de melhora no desempenho no trabalho.
Analisando os estudos citados, percebemos que a construção do sentimento de pertencimento deve estar sempre acompanhada da missão por parte da empresa de transformar seus quadros em parceiros positivos de negócios, despertando de forma orgânica o prazer pela causa coletiva e a sensação de estarem fazendo parte de uma história.
Por mais que ainda não seja tão explorado quanto deveria no mundo corporativo, não existe fórmula pronta para a construção do sentimento de pertencimento naqueles que compõem uma organização, sendo mais adequado encontrar meios que contribuam à formação dessa sensação de pertencimento.
4. Conclusão
Diante de tudo o que foi exposto, torna-se evidente a necessidade de abraçar tendências contemporâneas, que revelam o perfil do século 21, como através do mundo digital, criando conexões efetivas entre uma marca e possíveis clientes. Apesar das limitações expressas no Código de Ética e Disciplina da OAB, é possível compreendermos que o desenvolvimento e aperfeiçoamento de um escritório está cada vez mais pautado na construção de um raciocínio crítico e analítico, que permite uma nova realidade no mundo jurídico, trazendo uma visão de negócios preocupada com o
bem-estar de seus quadros integrantes e consequentemente de um melhor funcionamento organizacional.
*João Senna é bacharelando em Direito pela Universidade Salvador (UNIFACS) e possui experiência de atuação em institutos acadêmicos de representação estudantil e inclusão social. Executa projetos voltados à promoção da diversidade no município onde nasceu. Estagiário na área de Negócios e Relações Institucionais da MoselloLima Advocacia e integra a célula de inteligência comercial do escritório.
*Tais Nascimento é formada em gestão de Recursos Humanos pelo Centro Universitário Jorge Amado (Unijorge) e pós-graduanda em liderança e inovação pela FGV. Possui experiência nos setores administrativo, recrutamento&seleção, engajamento e gestão de pessoas. Exerce a função de Advisor na área de Negócios e Relações Institucionais e integra a célula de inteligência comercial da MoselloLima Advocacia.
REFERÊNCIAS
MENEZES, Nayara. Marketing X publicidade: o que o Código de Ética da OAB restringe? SAJ ADV, 2019. Disponível em: https://blog.sajadv.com.br/o-que-codigo-deetica-da-oabrestringe/#:~:text=A%20publicidade%20no%20C%C3%B3digo%20de%20%C3%89tica
%20da%20OAB&text=Art.,em%20conjunto%20com%20outra%20atividade.&text=O%2
0advogado%20n%C3%A3o%20pode%20estimular%20atitudes%20assim. Acessado em: 28 de abril de 2021.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. 1.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
THILL, Rebeca Fraser. 4 maneiras de promover o sentimento de pertencimento no trabalho. 2019. Disponível em: . Acesso em: 28. Abr. 2021.
IBC, Equipe. O PODER DO PERTENCIMENTO NAS EMPRESAS. 2019. Disponível em: . Acesso em: 28. abr. 2021.
MEDEIROS, Vinicius. Valores, propósitos e senso de pertencimento. 2020. Disponível em: . Acesso em: 28. abr. 2021